top of page

O que é Comunicação Não Violenta (CNV) e Como Aplicá-la no Dia a Dia

  • Foto do escritor: Iasmin Montini
    Iasmin Montini
  • 30 de out
  • 8 min de leitura

Atualizado: 6 de nov


O método desenvolvido pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg, batizado de Comunicação Não Violenta (CNV), é mais do que um conjunto de  técnicas de fala; é um poderoso modelo de comunicação, um modo de ser, de pensar e de viver.


Isso porque a CNV se baseia em habilidades de linguagem e comunicação que fortalecem nossa capacidade de continuarmos humanos, mesmo em condições adversas.


A Comunicação Não Violenta é frequentemente descrita como a linguagem da compaixão. Seu propósito fundamental é inspirar conexões sinceras entre as pessoas, de modo que as necessidades de todos sejam atendidas por meio da doação compassiva, ou seja, pela compaixão genuína, empática e recíproca.


O cerne da CNV concentra-se em duas perguntas essenciais:

  1. O que está vivo em nós? (Ou o que está vivo em mim/você?).

  2. O que podemos fazer para tornar a vida mais maravilhosa?.


A CNV nos lembra do que já sabemos — de como nós, seres humanos, deveríamos nos relacionar uns com os outros — e nos ajuda a viver de modo que esse conhecimento se manifeste concretamente. A seguir, vamos te mostrar um pouco mais sobre esse estilo de vida e como aplicá-lo de forma prática no dia a dia.


Desenho de pessoas conersando dentro de um espaço demarcado, formando um balão de fala. Uma das pessoas abre espaço para que outra se junte ao grupo. A imagem representa a Comunicação Não Violenta).

A Filosofia da CNV: Por Que Precisamos Mudar a Comunicação?


A pesquisa do Dr. Rosenberg foi motivada pelo contexto de conflitos raciais que presenciou em sua juventude e, principalmente, pelo seu trabalho como orientador em escolas que lidavam com a segregação racial nos EUA. Ele percebeu que fomos educados desde o nascimento para competir, julgar, exigir e diagnosticar, e que esse padrão traria mais sofrimento do que benefícios aos seres humanos.


Neste contexto, Marshall se inspirou em figuras como Mahatma Gandhi e Martin Luther King Jr. para a sistematização de um método que buscasse novas formas de comunicação que pudessem oferecer alternativas pacíficas à violência que ele presenciou em sua juventude. Seu propósito era criar um mundo com mais justiça e paz através da compaixão e conexões sinceras e empáticas.


Comunicação Alienante da Vida


A CNV busca superar a chamada "comunicação alienante da vida", que inclui:


  • Julgamentos Moralizadores: Usar rótulos, críticas, comparações, depreciação, ou diagnósticos (como chamar alguém de "egoísta" ou "preguiçoso") que subentendem uma natureza errada ou maligna. Esses julgamentos são a causa da raiva.

  • Confundir Sentimentos com Avaliações: Expressões como "sinto-me incompreendido" ou "sinto-me manipulado" não são sentimentos; são análises ou diagnósticos do comportamento do outro. Uma forma de clarear a comunicação sobre os seus sentimentos seria nomeá-los. Você poderia dizer: “Me sinto triste e frustrado por ter que lidar com essa incompreensão.”

  • Exigências: Comunicar nossos desejos na forma de exigências, nas quais o ouvinte acredita que será culpado ou punido se não atender ao pedido. Esse movimento faz com que as respostas sejam mais reativas e te afastam do seu objetivo real.


A CNV adota a tática do “poder com” em vez do “poder sobre”. O poder com permite que as pessoas ajam de bom grado por perceberem que contribuirão para o bem-estar de todos, em contraste com a coerção baseada no medo, na culpa ou na punição.


Exemplo: Uma líder percebe que o prazo de entrega de um projeto está apertado e a equipe está sobrecarregada.


  • Poder Sobre (Modelo Tradicional): “Eu preciso que todos fiquem até mais tarde essa semana. Não tem outra opção.”

  • Poder Com: “Pessoal, percebi que o prazo está muito justo e quero encontrar uma forma de concluirmos sem esgotar ninguém. Podemos pensar juntos em alternativas? Talvez redistribuir tarefas, ajustar o prazo com o cliente ou priorizar o que é mais essencial. O que vocês acham que funciona melhor?”


(Você pode encontrar mais informações sobre CNV para Líderes neste link).


Os Quatro Componentes da Comunicação Não Violenta


O processo da CNV nos guia a focar a nossa atenção consciente em quatro áreas interligadas:


1. Observação (O)


A etapa de observação consiste em descrever o que os outros dizem ou fazem de maneira concreta, expressando o que é enriquecedor ou não para nossa vida. O ponto crucial é articular essa observação sem fazer nenhum julgamento ou avaliação


Ao combinar observação com avaliação, é provável que a mensagem seja ouvida como crítica e o interlocutor resista ao que dizemos. A observação deve ser precisa e específica, desestimulando generalizações estáticas, como usar "sempre" ou "nunca".


Exemplo: Um pai chega em casa e vê o quarto do filho bagunçado.


  • Avaliação e Julgamento: “Você é muito desorganizado! Seu quarto está sempre uma bagunça.”

  • Observação (O): “Quando vejo roupas e livros espalhados pelo chão e a cama desarrumada, fico preocupado com o quanto está difícil manter o quarto em ordem.”


2. Sentimento (S)


Identificamos como nos sentimos ao observar aquela ação (magoados, assustados, alegres, irritados etc.). Desenvolver um vocabulário de sentimentos que nos permita expressar as nossas emoções de forma clara e específica nos conecta mais facilmente uns com os outros. A expressão da nossa vulnerabilidade por meio dos sentimentos pode ajudar a resolver conflitos.


Exemplo: Um casal sai para jantar e uma das partes passa a maior parte do tempo no telefone, trabalhando.


  • Expressão agressiva: “Você é viciado nesse celular! Não dá pra conversar com você!”

  • Expressão Vulnerável do Sentimento (S): “Sei que o que você faz é importante, mas quando você fica no celular durante o jantar, eu me sinto triste e desconectada, porque esses momentos juntos são importantes pra mim.”


3. Necessidade (N)


Consiste na habilidade de reconhecer as necessidades, valores ou desejos universais que estão por trás dos nossos sentimentos. Um conceito básico da CNV é que o que os outros dizem e fazem pode ser o estímulo, mas nunca a causa dos nossos sentimentos. 


Nossos sentimentos resultam de como escolhemos receber o que os outros fazem e de nossas necessidades. Julgamentos, críticas e diagnósticos são expressões alienadas de nossas próprias necessidades.


Exemplo: Você marcou com um(a) amigo(a) de se encontrarem às 19h, mas ele(a) chega às 20h, sem avisar.


  • Crítica e Diagnóstico: “Você é muito irresponsável, nunca se importa com meu tempo!”

  • Expressando a Necessidade (N): “Quando você chegou uma hora depois do combinado, eu me senti irritada e desconsiderada, porque pra mim é importante ter clareza e respeito nos nossos combinados.”


4. Pedido (P)


A CNV entende que quando percebemos o que precisamos e pedimos aos outros podemos enriquecer a nossa vida. Para isso, o pedido deve ser formulado em uma linguagem de ação positiva, expressando o que desejamos que a outra pessoa faça, e não o que não queremos que ela faça. 


Nessa tarefa, é importante ser claro e específico, para que a informação seja passada como um pedido, e não uma exigência, e o ouvinte reconheça que pode discordar e ser compreendido em sua discordância.


Exemplo: Você percebe que um colega frequentemente interrompe suas falas durante as reuniões.


  • Exigência: “Não posso trabalhar assim. Você precisa parar de me interromper o tempo todo!”

  • Pedido (P): “Quando estou falando e você me interrompe, eu me sinto frustrada porque preciso de espaço pra concluir meu raciocínio. Você poderia esperar eu terminar antes de compartilhar suas ideias?”


Como Aplicar a CNV no Dia a Dia


A CNV se aplica de maneira eficaz a todos os níveis de comunicação, incluindo relacionamentos interpessoais, no trabalho, famílias, escolas, e conflitos. E para isso, existem algumas técnicas práticas para aplicá-la no dia a dia.


Comunicação Assertiva sem Agressão



  • Use a Fórmula Pura: Ao se expressar, use a estrutura dos quatro componentes da CNV para ser sincero sem usar palavras que impliquem erro, crítica, insulto, julgamento ou diagnóstico.

  • Assuma a Responsabilidade: Em vez de dizer: “Você me feriu quando fez X”, diga: “Eu me sinto [Sentimento], porque preciso de [Necessidade]”. Isso evita a culpa e aumenta a probabilidade de uma reação compassiva.


Escuta Empática em Conflitos


A outra metade da CNV é receber com empatia as mensagens dos outros. Essa escuta não é meramente cognitiva, mas uma compreensão mais profunda e preciosa.


  • Ouvindo Além das Palavras: Não importa quais palavras as pessoas usem para se expressar, o praticante da CNV procura escutar seus sentimentos e necessidades. Os insultos e críticas são vistos como expressões trágicas de necessidades insatisfeitas.

  • Paráfrase (Repetição): É crucial repetir com as próprias palavras o que você ouviu. Isso confere se você entendeu mesmo e, mais importante, mostra ao outro que ele foi escutado. A paráfrase ajuda a desarmar um ataque iminente.

  • Lidando com o "Não": Quando alguém diz "não", o praticante da CNV não ouve rejeição; ouve a verdade de que existe uma necessidade da outra pessoa que não está sendo atendida por sua estratégia.


Autocompaixão e Luto por Erros


A aplicação mais decisiva da CNV, e possivelmente a mais difícil, consiste na maneira como tratamos a nós mesmos. Além do autoconhecimento necessário para reconhecermos os nossos sentimentos e necessidades, é muito valioso para a CNV quando utilizamos da autocompaixão e autoempatia.


  • CNV e Autocrítica: Quando cometemos um "erro", a CNV nos ajuda a aprender com nossas limitações sem perder o autorrespeito. Dessa forma, a Comunicação Não Violenta incentiva a substituição da autocrítica punitiva pela autocompaixão, focando na identificação de sentimentos e necessidades para entender o comportamento, se livrando dos julgamentos e da culpa interna.

  • Perdão de Si Mesmo: O luto na CNV é representado pelo encerramento de ciclos. Assim, ele envolve conectar-se com os sentimentos e necessidades não atendidas que foram estimulados por ações passadas, mas que podem ser transformados para que alcancemos uma vida mais maravilhosa.

  • Transformando a Raiva: A raiva é um alerta valioso que indica que estamos pensando de um modo que provavelmente não atenderá à nossa necessidade, geralmente por meio de julgamentos. Os quatro passos para lidar com a raiva, de acordo com a CNV, são:


  1. Parar e Respirar: Respire profundamente, reconheça que está com raiva e aceite o sentimento sem se julgar. Isso ajuda a criar espaço interno para compreender o que está acontecendo.

  2. Identificar os pensamentos que alimentam a raiva: A raiva geralmente vem de pensamentos avaliativos — julgamentos, críticas ou acusações. Pergunte-se: “O que estou dizendo para mim mesmo sobre essa pessoa ou situação?” Reconhecer esses pensamentos é essencial para transformá-los.

  3. Conectar-se às suas necessidades não atendidas: Debaixo da raiva, sempre há necessidades universais que não estão sendo cuidadas. Quando você se conecta à necessidade, a raiva começa a se transformar em energia para cuidar de si.

  4. Expressar-se de forma honesta e empática:  Comunique o que está vivo em você (seus sentimentos e necessidades) e faça um pedido concreto, sem julgamento. Esses quatro passos ajudam a transformar a raiva em clareza e conexão, em vez de violência ou repressão.


CNV na Prática Diária


A CNV se adapta facilmente a diversas situações e estilos pessoais. O importante é manter a consciência sobre quatro componentes, ser gentil com nós mesmos e com os outros e lembrar que errar é humano, e que praticar é o caminho para o sucesso.


A CNV é um instrumento eficiente para capacitar o autoconhecimento e restabelecer a confiança mútua. O verdadeiro desafio é treinar, treinar, treinar, aceitando que o objetivo não é a perfeição, mas buscar ser cada vez menos "idiota". Aqui vão alguns conteúdos que podem te auxiliar nessa jornada: 


Desenvolva a Comunicação Não Violenta


  • Liderança pelo Diálogo: Torne-se uma liderança que sabe conversar com assertividade e empatia na medida certa.

  • Guia Prático para Conversas Difíceis no Trabalho: Existe um caminho prático e guiado para aprimorar suas conversas difíceis no trabalho. E é exatamente isso que você encontrará neste guia.

  • Minicurso de Feedbacks Eficazes: Seu guia passo a passo para dar feedbacks construtivos e empáticos.

  • Ebook Conversas Reativas: Descubra maneiras práticas e eficientes de lidar assertivamente com conversas emocionais e altamente reativas.

  • Mentoria Individual: Tem como propósito apoiar você em transições e conflitos que possa estar enfrentando. Durante as sessões, você poderá aprender a incorporar a prática da Comunicação Não Violenta (CNV) em sua vida e/ou receber suporte para transições de carreira.

Humanos em sintonia consigo, entre si e

com o mundo.

(41) 98465-8863

contato@ivanpetry.com

Rua Leôncio Correia, 412 - Curitiba/Paraná

logo ivan petry
  • Instagram
  • LinkedIn
  • YouTube

"Nada lhe posso dar que já não exista em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além daquele que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo." - Hermann Hesse

bottom of page