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Comunicação Não Violenta: Recursos e Ferramentas para Iniciantes

  • Foto do escritor: Iasmin Montini
    Iasmin Montini
  • 16 de out.
  • 9 min de leitura

Atualizado: 20 de out.

A Comunicação Não Violenta (CNV), desenvolvida pelo psicólogo Marshall Rosenberg, é muito mais do que um conjunto de técnicas; é um poderoso modelo de comunicação, um modo de ser, de pensar e de viver. Seu propósito é inspirar conexões sinceras entre as pessoas, ajudando-nos a manifestar nossa natureza compassiva e empática com transparência.


Para iniciantes, a CNV oferece uma estrutura clara e ferramentas práticas que podem ser aplicadas no dia a dia. No entanto, é importante lembrar que, embora o processo seja simples, o aprendizado pode ser bastante desafiador, considerando que fomos culturalmente programados para julgar, exigir e diagnosticar. Portanto, a melhor forma de integrar a CNV é praticar, fazer tudo 'errado', aprender mais e repetir.


Abaixo, listamos os principais recursos e ferramentas para quem está começando a jornada na Comunicação Não Violenta.



Mãos de pessoas diferentes se entrelaçando de maneira a formar uma corrente redonda onde todos se acolhem. O fundo mostra o céu azul.


O Recurso Fundamental: O Modelo de Quatro Componentes da Comunicação Não Violenta


Como qualquer mudança de comportamento ou de valores, o desenvolvimento da CNV requer uma boa dose de auto análise, mas com a vantagem de uma estrutura desenhada para favorecer esse processo. O cerne da CNV reside, então, na concentração da consciência em quatro componentes, que funcionam como um mapa para expressar o que está vivo em nós e para nos conectarmos empaticamente com os outros.


Portanto, para expressar-se usando a CNV, volte para si mesmo e perceba:


  1. Observação (O)


O primeiro componente em que a consciência deve se concentrar é a observação. O que estou observando que contribui ou não para o meu bem-estar? Quais características desse episódio podem ser facilmente contempladas por todos os envolvidos?


A CNV convida você a expressar o que os outros dizem ou fazem de forma concreta e específica, livre de qualquer avaliação ou julgamento.


Exemplo prático: Ao invés de dizer "você é muito desorganizado" ou "você sempre se atrasa!", você pode observar: “Notei que nossas reuniões têm começado cerca de 15 minutos depois do horário combinado.”


  1. Sentimento (S)


Após a observação, é necessário perceber: como estou me sentindo em relação ao que estou observando? Aqui, desenvolver um vocabulário de sentimentos que nos permita nomear emoções de forma clara e específica é vital. 


Reconhecer e expressar sentimentos, como frustrado, assustado ou alegre, ajuda a resolver conflitos por facilitar a transparência, evitando ruídos e erros na comunicação. É essencial distinguir sentimentos de pensamentos/avaliações. Quando dizemos "sinto-me criticado", por exemplo, estamos descrevendo uma interpretação do comportamento do outro e não um sentimento genuíno.


Sentimentos verdadeiros expressam estados internos, como 'triste', 'inseguro' ou 'frustrado'. Já frases como "sinto que não me respeitam" contêm julgamentos ou conclusões sobre o outro. Essa diferenciação é importante pois nos ajuda a nos conectar com o que realmente sentimos, e não com a história que contamos que aconteceu.


Exemplo prático: Seguindo o exemplo anterior, após apontar o ocorrido, você pode dizer: “Eu me sinto frustrado e um pouco desmotivado com isso.”


  1. Necessidades (N)


Com os sentimentos já identificados, torna-se mais fácil perceber quais necessidades, valores ou desejos estão por trás desses sentimentos. A CNV ensina que a causa dos nossos sentimentos são as nossas necessidades, e não o comportamento do outro. 


Esse entendimento considera a universalidade das necessidades, como segurança, pertencimento, respeito, entre outros. Ao nos conectarmos no nível das necessidades, é mais fácil solucionar conflitos, já que a percepção torna-se mais clara e a empatia é desenvolvida.


Exemplo prático: Após apresentar o seu sentimento, tente expressar o que está por trás dele: “Porque valorizo muito o uso eficiente do tempo e o respeito aos compromissos.”


  1. Pedido (P)


O último componente da CNV envolve a ação resultante das percepções iniciais, ou seja, quais ações concretas eu peço para enriquecer minha vida, agora que reconheço as necessidades que me movem?


Este pedido deve ser formulado em linguagem de ação positiva, expressando o que se deseja que a outra pessoa faça, em vez do que se deseja que ela pare de fazer. É crucial que seja um pedido, e não uma exigência, o que significa que o outro pode recusar sem medo de culpa ou punição.


Exemplo prático: O uso dos quatro componentes combinados na situação apresentada, seria: "Notei que nossas reuniões têm começado cerca de 15 minutos depois do horário combinado (O). Eu me sinto frustrado e um pouco desmotivado com isso (S). Porque valorizo muito o uso eficiente do tempo e o respeito aos compromissos (N). Você poderia me avisar previamente quando for se atrasar, assim podemos nos organizar para usar o nosso tempo com mais eficiência (P)."


Ferramentas Práticas de Comunicação para Iniciantes


Apesar de parecer um caminho descomplicado, se aventurar na auto análise pode ser bastante desafiador. Por isso, além da estrutura de quatro partes, existem várias técnicas e ferramentas práticas que fortalecem a assertividade e a empatia, sendo úteis para quem está começando, inclusive para pessoas em cargos de liderança, que pressupõe habilidades relacionadas à CNV:


A Paráfrase Empática (Repetir para Aprender)


Uma técnica simples e eficaz. A Paráfrase consiste em repetir com as suas próprias palavras o que o outro disse. Essa é uma habilidade fundamental que serve para:


  • Conferir o Entendimento: Assegurar-se de que a mensagem enviada foi a que foi recebida.

  • Demonstrar Escuta: Mostrar ao interlocutor que ele foi ouvido, o que minimiza a resistência e desarma ataques iminentes.

  • Ouvir a Necessidade: Permite ao receptor da mensagem focar no que o outro está sentindo e necessitando, e não no julgamento que a pessoa expressa.


Exemplo prático: Quando alguém diz: “Eu me sinto sobrecarregado porque parece que só eu me importo com as entregas.” Você pode responder (parafraseando): “Você está se sentindo cansado e quer mais colaboração da equipe, é isso?” Esse tipo de resposta mostra que houve escuta e ajuda o outro a se sentir compreendido.


A Linguagem de Ação Positiva (Para Pedidos e Queixas)


Considerando os quatro componentes apresentados acima, CNV propõe que os pedidos sejam feitos usando a linguagem de ação positiva, para isso:


  • Evite o Negativo: Dizer o que você não quer que o outro faça é ambíguo e provoca resistência.

  • Seja Específico e Concreto: Evite frases vagas, abstratas ou ambíguas.


Uma ferramenta complementar para expressar queixas sem agressão é a fórmula XYZ:


  • X (Ação/Observação): “Quando você fez X…” (Mantenha-se na queixa específica).

  • Y (Sentimento/Impacto): “…me fez sentir Y…”.

  • Z (Pedido): “…e eu preferia que você, em vez disso, fizesse Z”.


Criação de um Espaço Seguro (Para Conversas de Risco)


Especialmente importante em cargos de liderança, a habilidade de dialogar com assertividade e empatia é essencial; mas além disso, em qualquer interação vulnerável (como uma reunião de feedback ou a comunicação de uma mudança), o líder (ou comunicador) deve criar um espaço seguro. Para isso, é importante: 


  • Nomear os Acordos: Isso é feito perguntando à equipe (ou ao interlocutor) o que os integrantes precisam para se sentir abertos e seguros na conversa.

  • Estabelecer Limites de Comportamento: É crucial definir o que não é aceitável. Por exemplo: "Gritar não é comum" ou "Interromper as pessoas e revirar os olhos não é aceitável". Se um confronto se tornar improdutivo, peça um intervalo para "dar uma volta ou recuperar o fôlego".


Confrontando as Histórias que Criamos


A mente humana tem a tendência de criar Histórias sobre o que acontece - interpretações e suposições baseadas em medo, ansiedade ou experiências passadas. Quando algo nos incomoda, podemos parar e nos perguntar: “O que estou dizendo para mim mesmo agora que está me fazendo sentir assim?”


Esse tipo de reflexão ajuda a diferenciar o que realmente aconteceu do que estamos interpretando. Ao reconhecer que parte da nossa reação vem das histórias que criamos, abrimos espaço para transformar julgamentos em consciência sobre sentimentos e necessidades não atendidas.


Essa prática é uma forma poderosa de retomar a clareza e agir com mais empatia, tanto conosco quanto com os outros.


Recursos de Aprendizado e Desenvolvimento Contínuo da CNV


Agora que você já conhece as ferramentas para desenvolver a CNV, como em qualquer outra habilidade, essas técnicas e a coragem (necessárias para praticá-las) podem ser treinadas, observadas e mensuradas. 


A mudança só acontece de verdade através da prática contínua, e por isso, separei algumas dicas para você se aprofundar nesse assunto:


Materiais e Plataformas Online


Se você quer continuar aprendendo sobre Comunicação Não Violenta, existem diversas plataformas e materiais que oferecem conteúdos confiáveis, inspiradores e aplicáveis no dia a dia:


  • Center for Nonviolent Communication (CNVC) – Organização fundada por Marshall Rosenberg, guardiã da integridade do processo de CNV. No site, você encontra informações sobre treinamentos, certificações e materiais de estudo oficiais.

  • NVC Academy – Plataforma internacional com cursos, workshops e conteúdos práticos sobre CNV com instrutores certificados do mundo todo.

  • Instagram do Ivan Petry – Conteúdos novos semanalmente sobre CNV, habilidades sociais e comunicação empática, com dicas práticas para aplicar no trabalho e na vida.

  • Guia Prático para Conversas Difíceis no Trabalho – Ebook gratuito inspirado na CNV, criado para ajudar você a incorporar essa prática de forma concreta no ambiente profissional e lidar melhor com conversas desafiadoras.

  • Ebook Conversas Reativas – Um material também inspirado na CNV, que te ajuda a lidar com conversas de alto impacto emocional, transformando reatividade em conexão e clareza.

  • Programa Liderança pelo Diálogo – Formação completa baseada na Comunicação Não Violenta, voltada a líderes formais e informais que desejam equilibrar empatia e assertividade para construir ambientes de confiança e colaboração.


Prática em Comunidade e Simulação


A CNV se desenvolve na interação com os outros:


  • Grupos de Prática e Comunidade de Apoio: Participar de uma comunidade de apoio da CNV é altamente recomendado, pois vivemos em um mundo condenatório. Existem grupos práticos e listas de e-mail (LISTSERVS™) desenvolvidos para dar apoio ao aprendizado individual.

  • Simulação e Anotação: Nunca subestime o valor de simular situações (encenar conversas difíceis), praticar e fazer anotações por escrito antes de reuniões ou conversas importantes.

  • Dupla empática: Encontre uma pessoa com quem você possa combinar encontros regulares de troca de escuta. Nessa dupla, um fala enquanto o outro apenas ouve com presença e curiosidade genuína — sem interromper, aconselhar ou corrigir. Depois, os papéis se invertem. Essa prática é simples, mas extremamente transformadora: ela permite exercitar a escuta empática, validar sentimentos, reconhecer necessidades e ampliar o autoconhecimento. Além disso, cria um espaço seguro para experimentar a CNV na vida real e aprender com as próprias experiências e as do outro.


Leitura


A base do aprendizado deve ser a leitura cuidadosa e o treino disciplinado.


  • Comunicação Não-Violenta: Técnicas para Aprimorar Relacionamentos Pessoais e Profissionais: Obra de Marshall Rosenberg fundamental da CNV. Apresenta os quatro componentes (observação, sentimento, necessidade e pedido) e exemplos práticos de como transformar julgamentos e reatividade em empatia e conexão genuína. É a melhor porta de entrada para quem está começando.

  • Vivendo a Comunicação Não Violenta: Obra do mesmo autor, que aprofunda os princípios do livro principal, trazendo uma reflexão sobre como viver a CNV como uma filosofia de vida — indo além da técnica. Explora temas como autenticidade, espiritualidade e compaixão no cotidiano.

  • A Linguagem da Paz em um Mundo de Conflitos: Escrito por Marshall Rosenberg. Reúne experiências de Rosenberg em contextos de guerra, mediação de conflitos e reconciliação entre povos. Mostra o poder transformador da CNV em escalas sociais e políticas, não apenas interpessoais.

  • Educação para uma Vida Mais Plena: Essa obra de Rosenberg foca na aplicação da CNV em contextos educacionais. Traz exemplos de sala de aula, práticas de escuta empática entre professores e alunos e reflexões sobre como cultivar ambientes de aprendizado baseados em respeito mútuo e cooperação.

  • Amo Você Sendo Quem Sou: Livro leve e profundo, também de Rosenberg, sobre amor e relacionamentos. Mostra como aplicar a CNV nas relações afetivas e familiares, substituindo culpa, exigência e expectativa por honestidade, empatia e conexão.

  • Criar Filhos Compassivamente: Última indicação produzida por Marshall Rosenberg. Essa obra se volta à parentalidade consciente, mostra como educar com empatia e firmeza, substituindo castigos e recompensas por diálogo e cooperação. É uma referência para pais, educadores e cuidadores que desejam aplicar a CNV na criação de crianças.

  • Liberdade sem Distância, Conexão sem Controle: Escrito por Liv Larsson. Explora o equilíbrio entre liberdade individual e vínculo relacional a partir da CNV. Mostra como podemos nos conectar sem perder autonomia e como dizer “não” de forma empática. Indicado para quem quer aprofundar o tema de limites e autenticidade.

  • Comunicação Não Violenta no Trabalho: De Ike Lasater com Julie Stiles, é uma versão prática e enxuta do livro anterior, com dicas aplicáveis no dia a dia. Excelente para quem busca um guia de bolso para melhorar a comunicação profissional.

  • Exercícios de Comunicação Não Violenta: Obra de Lucy Leu. Se trata de uma compilação prática de exercícios e reflexões baseadas nos workshops de Rosenberg. É ideal para quem já leu o livro principal e quer praticar sozinha(o) ou em grupo.

  • The Heart of Nonviolent Communication: 25 Keys to Shift from Separation to Connection: Idealizada por Stephanie Bachmann Mattei & Kristin K. Collier, a obra apresenta 25 chaves práticas para internalizar a CNV, com uma linguagem contemporânea e acessível. Foca na integração da CNV como prática de consciência, não apenas como ferramenta de comunicação.

  • How to Have Antiracist Conversations: Embracing Our Full Humanity to Challenge White Supremacy: Obra de Roxy Manning que expande os princípios da CNV para o diálogo sobre racismo, poder e opressão. Mostra como aplicar a escuta empática e a expressão autêntica em conversas desafiadoras sobre desigualdade e justiça social.


Descomplique a Comunicação Não Violenta sem sair do site


Se estiver com pouco tempo mas ainda sentir que precisa saber mais:


Ao utilizar esses recursos e ferramentas, o iniciante pode começar a traduzir as informações da cabeça para o coração, transformando a comunicação em um fluxo consciente e compassivo através da Comunicação Não Violenta.


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"Nada lhe posso dar que já não exista em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além daquele que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo." - Hermann Hesse

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