10 Exemplos de Uso da Comunicação Não Violenta no Dia a Dia
- Iasmin Montini
- há 6 dias
- 8 min de leitura
A Comunicação Não Violenta (CNV) é uma poderosa ferramenta para melhorar nossos relacionamentos interpessoais e lidar melhor com conflitos do dia a dia. Criada pelo psicólogo Marshall Rosenberg, essa abordagem ajuda a expressar sentimentos e necessidades de forma empática, sem julgamentos ou acusações. Aplicar a CNV na rotina — seja em casa, no trabalho, com amigos ou parceiros — transforma conversas difíceis em oportunidades de conexão e entendimento.
Em sua essência, a CNV se concentra em responder a duas perguntas vitais: "O que está vivo em nós?" e "O que podemos fazer para tornar a vida mais maravilhosa?". Isso exige que nos expressemos e escutemos o outro por meio de quatro componentes centrais:
Observação (O): Expressar o que vemos ou ouvimos livre de qualquer avaliação ou julgamento.
Sentimento (S): Identificar as emoções ou sensações que surgem, sem confundi-las com pensamentos ou diagnósticos.
Necessidade (N): Reconhecer os valores ou desejos universais que são a causa dos nossos sentimentos (e não o comportamento do outro).
Pedido (P): Solicitar uma ação concreta e positiva para enriquecer a vida, garantindo que não soe como uma exigência.
A CNV é um instrumento eficiente para capacitar o autoconhecimento e o restabelecimento da confiança. Desenvolver essa habilidade significa treinar, treinar, treinar e aceitar que o objetivo não é a perfeição, mas ser cada vez menos "idiota".
A seguir, apresentamos 10 exemplos práticos de como aplicar os princípios da CNV no dia a dia:

1. Lidando com um Espaço Comum Desorganizado
Em vez de rotular alguém como "preguiçoso" ou "desorganizado", o que diminui a probabilidade de a mensagem ser ouvida, a CNV foca na observação específica e concreta do que gera o desconforto.
Abordagem Alienante (Julgamento): "Você é preguiçoso e nunca lava a louça. Eu não sou sua empregada!"
Abordagem CNV (Observação + Sentimento + Necessidade + Pedido): "Quando vejo (O) a pia cheia de louça do café da manhã há duas horas, eu me sinto frustrado (S), porque preciso de ordem e limpeza (N) no espaço comum. Você estaria disposto a (P) lavá-la agora?"
O Princípio em Ação: O primeiro passo da CNV é separar observação de avaliação. O pedido deve ser claro, específico e em linguagem de ação positiva. O pedido claro da mãe ao filho sobre meias sujas, por exemplo, é mais eficaz do que a crítica, pois evita respostas reativas e incentiva o acolhimento empático das necessidades gerais.
2. Expressando Apreciação e Reconhecimento
Na CNV, o reconhecimento não é sinônimo de elogio (que é visto como um julgamento positivo e, por vezes, uma forma de manipulação), mas sim uma celebração da vida. O objetivo é incentivar que o outro saiba como ele enriqueceu a nossa vida.
A CNV utiliza três componentes para expressar gratidão: a ação, o sentimento gerado e a necessidade atendida.
Abordagem Convencional (Elogio/Julgamento): "Você é um colega muito atencioso e gentil."
Abordagem CNV (Ação + Sentimento + Necessidade Atendida): "Quando você se ofereceu para me dar carona para casa na noite passada (Ação), fiquei grato e aliviado (Sentimento), porque eu precisava de um pouco de descanso e segurança (Necessidade) no fim do dia."
O Princípio em Ação: A intenção primordial é celebrar a vida, nada mais, sem tentar recompensar ou manipular.
3. Respondendo a Críticas e Julgamentos Pessoais
Quando somos acusados ("Você é egoísta!") ou julgados ("Você é sensível demais!"), a tendência é entrar no ciclo de ataque e defesa. A CNV nos ensina a pôr as "orelhas da CNV" para compreender a crítica como uma expressão primitiva de uma necessidade não atendida.
Abordagem Reativa (Defesa/Contra-ataque): "Eu não sou egoísta! Eu vivo para te ajudar. Como você pode dizer isso?"
Abordagem CNV (Ouvindo a Necessidade Não Atendida): “Você está se sentindo frustrado porque precisa de mais reconhecimento pela sua contribuição?”
O Princípio em Ação: A CNV nos ensina a nunca levar as coisas para o lado pessoal. Ao ouvir o sofrimento e a necessidade por trás do insulto, o praticante da CNV não ouve julgamentos, críticas nem ataques, mas sim a verdade.
4. Fazendo um Pedido Positivo e Específico
Muitas vezes, a falta de clareza ou o uso de linguagem negativa em um pedido resultam em confusão e insatisfação. Pedidos devem ser formulados em linguagem de ação positiva e ser exequíveis (claros sobre como a necessidade será atendida).
Abordagem Negativa/Vaga: “Não quero que você trabalhe tanto”.
Abordagem CNV (Ação Positiva e Clara): "Eu gostaria (P) que você me dissesse se estaria disposto a passar pelo menos uma noite por semana comigo e com as crianças (Ação Positiva), porque sinto falta de conexão familiar (Necessidade)."
O Princípio em Ação: Formular pedidos em linguagem clara, positiva e de ações concretas revela o que realmente queremos. Palavras vagas, como "compreensão", não expressam uma ação específica; a pessoa poderia pedir para o outro "repetir o que me ouviu dizer".
5. Gerenciando a Raiva Internamente (Diálogo Consigo Mesmo)
A raiva é um alerta de que estamos pensando de um modo que não atenderá às nossas necessidades, geralmente por meio de julgamentos moralistas. Perceber isso é um importante indício de inteligência emocional. Para transformar a raiva, a CNV sugere um processo interno:
Identificar o Gatilho (Estímulo): Meu colega de trabalho chegou 30 minutos atrasado à reunião.
Identificar o Julgamento/Pensamento (Causa): "Ele é um irresponsável e não respeita o meu tempo!"
Conectar-se com a Necessidade Não Atendida: "Estou frustrado (S) porque preciso de respeito pelo meu tempo e previsibilidade (N). O que estou dizendo a mim mesmo que me causa tanta raiva é o julgamento de que ele é irresponsável.”
O Princípio em Ação: Ao focar na necessidade, a raiva se transforma em sentimentos que nos mobilizam para a ação (tristeza, frustração, decepção). A CNV nos lembra de que o estímulo (o atraso) nunca é a causa do sentimento, mas sim a nossa avaliação mental do ato. Expressar o que sente com assertividade é o primeiro passo para gerenciar a raiva.
6. Lidando com a Recusa ("Não") de Forma Empática
O medo de ouvir "não" é comum, mas o problema nunca é o "não", e sim o que comunicamos a nós mesmos quando o outro recusa. Na CNV, o "Não" é uma expressão desajeitada do que a pessoa quer, uma necessidade que não está sendo atendida por nossa estratégia.
Abordagem Coerciva/Ofensiva: (Após a recusa do colega em ajudar): "Se você não pode me ajudar, vou ter que me virar sozinho, e da próxima vez que precisar, eu não ajudo."
Abordagem CNV (Empatia e Busca Mútua): "Você está dizendo 'não' (O) porque está exausto (S) e precisa de descanso (N), e minha tarefa de última hora conflita com isso. Você estaria disposto a (P) me ajudar com uma parte menor, ou podemos buscar outra solução que atenda à sua necessidade de descanso?"
O Princípio em Ação: Se o outro disser "não", devemos oferecer acolhimento empático para com o que o está impedindo de dizer "sim". Se o objetivo é a conexão, o pedido não é uma exigência; a recusa deve ser recebida com o mesmo respeito.
7. Estabelecendo Limites de Comportamento Inaceitável
A assertividade da CNV exige a capacidade de estabelecer limites. Isso não significa reatividade ou punição, mas identificar quais pedidos vão além do que você pode oferecer no momento e nomear com clareza o comportamento ou pedido inadequado sem recorrer a julgamentos.
Exemplo: Durante uma discussão, a pessoa começa a gritar ou a fazer comentários sarcásticos.
Abordagem CNV (Estabelecimento de Limite): "Sei que esta é uma conversa difícil. É comum ficar irritado. Mas eu não vou aceitar que você grite comigo".
Alternativa: Se a conversa se tornar improdutiva, peça um intervalo para "dar uma volta ou recuperar o fôlego".
O Princípio em Ação: Conectar-se à própria necessidade antes de agir, permitindo dizer “não” ou definir limites claros sem ferir o outro, resulta em uma comunicação firme, mas humana — que protege tanto a si mesmo quanto a relação.
8. Pedindo Empatia e Escuta Sem Conselhos
Quando estamos em sofrimento ou frustração, muitas vezes só precisamos ser escutados com empatia, sem que o outro tente "consertar" ou "educar". Oferecer conselhos é um impulso comum, mas pode ser uma forma de atrapalhar a conexão.
Exemplo: Após um dia de trabalho, sua amiga te conta que seu chefe foi grosseiro com ela na frente dos colegas e que isso a deixou muito envergonhada.
Resposta Dando Conselhos: “Ah, você não devia deixar isso te afetar. Da próxima vez, responde à altura! Ou então conversa com ele e diz que não aceita ser tratada assim. Se fosse eu, não deixava barato.”
Resposta com Empatia: “Nossa, imagino o quanto isso deve ter sido desconfortável e constrangedor pra você. Ninguém gosta de ser exposto assim. Quer me contar mais sobre o que aconteceu?”
O Princípio em Ação: Antes de oferecer soluções, buscamos compreender e acolher o sentimento do outro. Ao reconhecer sua dor, criamos conexão genuína e abrimos espaço para que o diálogo aconteça de forma respeitosa e humana.
9. Confirmando o Entendimento do Outro (Paráfrase Empática)
Para uma comunicação eficaz e sincera, é importante garantir que a mensagem enviada foi a mesma que foi recebida. Uma técnica de demonstração da curiosidade genuína é a paráfrase. A paráfrase é a habilidade de repetir com as próprias palavras o que o outro disse.
Abordagem Convencional: "Sim, entendi tudo." (E, na verdade, não absorveu a carga emocional.)
Abordagem CNV (Paráfrase Empática): "Deixe-me ver se entendi: você está se sentindo incomodado (Sentimento) porque o volume alto da música não atende à sua necessidade de paz e descanso (Necessidade). É isso?"
O Princípio em Ação: Em mensagens intensamente emocionais, é seguro presumir que as pessoas apreciarão nos ouvir repetir o que ouvimos delas. A paráfrase mostra que você escutou e dá ao outro a oportunidade de corrigir qualquer mal-entendido.
10. Indo Além do Conflito de Fatos (Ouvindo Necessidades Universais)
Muitos conflitos persistem porque as pessoas entram em uma disputa para ver quem está certo. A CNV nos ensina a focar nas necessidades universais que nos unem.
Exemplo: Um projeto importante atrasou, e a equipe está nervosa discutindo quem vai contar ao chefe. Todos começam a apontar a culpa uns dos outros para se livrar da tarefa.
Abordagem CNV: Em vez de discutir um culpado, o diálogo explora as necessidades:
Explorando as Necessidades: “Gente, parece que estamos todos bem estressados com essa situação. Posso tentar entender o que cada um precisa agora?”
Pessoa 1:“Eu só não quero ser culpado sozinho.”
Pessoa 2: “E eu só queria que a gente lidasse com isso como equipe, não cada um se defendendo.”
Explorando as Necessidades: “Entendi. Você precisa de justiça e reconhecimento pelo seu esforço, certo? E para você é importante ter colaboração e apoio mútuo?”
Pessoas 1 e 2: Sim, exatamente.
Explorando as Necessidades: “Ok. Se o que todos queremos é reconhecimento e colaboração, podemos pensar juntos em como explicar isso ao chefe de forma honesta e unida?”
O Princípio em Ação: A CNV adota a tática do "poder com" em vez do "poder sobre", permitindo que as necessidades de todos sejam satisfeitas. Quando nos conectamos no nível das necessidades gerais, conflitos que parecem insolúveis começam a se tornar solúveis, pois enxergamos a humanidade mútua.
Considerações Finais sobre a Comunicação Não Violenta
O processo da Comunicação Não Violenta é uma linguagem da vida que, apesar de parecer simples, é desafiadora de aplicar, pois fomos culturalmente programados para o julgamento e a recompensa/punição.
Para aprimorar a CNV, é crucial praticar a clareza espiritual (consciência de como queremos nos conectar) e o treino constante, anotando os momentos de julgamento para transformá-los em necessidades não atendidas. Ao focarmos na curiosidade em vez da certeza, honrando o que está vivo em nós e nos outros, tornamos a assertividade um ato de amor e cooperação, e não de violência.
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